A Senhora Quer Ser Minha Mãe

***

Era uma tarde de julho, fria e triste. O carro em que ia a Senhora Sara parou diante de um armazém de roupas.

Um rapazito, com um molho de jornais debaixo do braço, contemplava atentamente as peças de roupa e calçados na montra.

A senhora fixou o olhar no pequenino. Chamou-lhe a atenção o olhar angustiado e pareceu-lhe que mexia os lábios, como se estive a rezar.

Desceu do automóvel, aproximou-se do pequeno ardina. Notou que os seus sapatos mal tinham solas e que a roupa estava velha e rota. Movida de compaixão, disse-lhe:

— Vem comigo, menino. Queres um fato?

— Queria, sim.

Entrou com o pequeno na loja e disse:

— Por favor, uns sapatos para este rapaz e também um fato novo. No fim apresente-me a conta.

O garoto deixou-se calçar e vestir, como se fosse coisa mais natural do mundo. Não estranhava nada de quanto fazia aquela senhora desconhecida, que também o olhava com simpatia e carinho. Tinha a impressão que o petiz lhe queria fazer uma pergunta. Quando este, finalmente, ficou pronto e arranjado, o caixeiro disse:

— Estas um lindo rapaz, olha! — E deu-lhe um espelho.

O pequeno pareceu contente. A senhora pensou: agora vai agradecer-me.

Mas enganou-se. O pequeno pegou-lhe na mão direita com delicadeza e perguntou-lhe, com toda confiança:

— Você quer ser minha mãe?

A Senhora Sara ficou tão surpreendida que, por instantes, nem soube o que responder.

— Porque me fazes esta pergunta?

O rapazito, com candura admirável, exprimiu-se assim:

— Porque Tomé Nsuka disse-me que as mães são muito boas. Aconselhou-me a pedir-lhe tudo que precisasse, porque ela me ouve, ainda que fale baixinho. Quando a senhora se aproximou da montra, eu estava a pedir que me aparecesse uma mãe que me desse uns sapatos e um fato. A senhora é a mãe que eu procuro.

A senhora beijou o menino e levou-o consigo.

***

É preciso Renascer
José H. Barros de Oliveira
(adaptado)
A senhora quer ser minha mãe - José Barros


Postar um comentário

Post um comentário (0)

Postagem Anterior Próxima Postagem