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Era uma tarde de julho, fria e triste. O carro em que ia a Senhora Sara parou diante de um armazém de roupas.
Um rapazito, com um molho de jornais debaixo do braço, contemplava atentamente as peças de roupa e calçados na montra.
A senhora fixou o olhar no pequenino. Chamou-lhe a atenção o olhar angustiado e pareceu-lhe que mexia os lábios, como se estive a rezar.
Desceu do automóvel, aproximou-se do pequeno ardina. Notou que os seus sapatos mal tinham solas e que a roupa estava velha e rota. Movida de compaixão, disse-lhe:
— Vem comigo, menino. Queres um fato?
— Queria, sim.
Entrou com o pequeno na loja e disse:
— Por favor, uns sapatos para este rapaz e também um fato novo. No fim apresente-me a conta.
O garoto deixou-se calçar e vestir, como se fosse coisa mais natural do mundo. Não estranhava nada de quanto fazia aquela senhora desconhecida, que também o olhava com simpatia e carinho. Tinha a impressão que o petiz lhe queria fazer uma pergunta. Quando este, finalmente, ficou pronto e arranjado, o caixeiro disse:
— Estas um lindo rapaz, olha! — E deu-lhe um espelho.
O pequeno pareceu contente. A senhora pensou: agora vai agradecer-me.
Mas enganou-se. O pequeno pegou-lhe na mão direita com delicadeza e perguntou-lhe, com toda confiança:
— Você quer ser minha mãe?
A Senhora Sara ficou tão surpreendida que, por instantes, nem soube o que responder.
— Porque me fazes esta pergunta?
O rapazito, com candura admirável, exprimiu-se assim:
— Porque Tomé Nsuka disse-me que as mães são muito boas. Aconselhou-me a pedir-lhe tudo que precisasse, porque ela me ouve, ainda que fale baixinho. Quando a senhora se aproximou da montra, eu estava a pedir que me aparecesse uma mãe que me desse uns sapatos e um fato. A senhora é a mãe que eu procuro.
A senhora beijou o menino e levou-o consigo.
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É preciso Renascer
José H. Barros de Oliveira
(adaptado)
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